A julgar pelos resultados anteriores das tramas de Gloria Perez, não havia motivo para duvidar que “Salve Jorge”
poderia ser um sucesso arrebatador e poderia manter o frisson causado
por “Avenida Brasil”. Afinal, “O Clone”, “América” e “Caminho das
Índias” atingiram todas médias gigantescas de audiência, com capítulos
ultrapassando a marca de espantosos 50 pontos. Além disso, alguns
elementos conspiravam a favor. A autora resolveu ambientar parte da
novela numa favela – onde se passaram grandes sucessos do cinema como
“Cidade de Deus” e “Tropa de Elite” – e abordar um tema importante: o
tráfico humano. Difícil entender, portanto, o momento em que essa
receita desandou o folhetim ser alvo de pesadas críticas em alguns
momentos.
Alguns fatores podem ser apontados, como a construção do mocinho.
Theo (Rodrigo Lombardi), vendido como “o cara” na trilha sonora, era um
militar facilmente manobrável que ainda vivia com a mãe. Em contraste
com essas fortes tintas de Morena (Nanda Costa), uma protagonista muito
bem delineada e interpretada com vigor, o personagem perdeu o apelo já
visto em figuras icônicas do universo de Gloria Perez, como Raj ou
Sayid. Aliado a isso, todas as histórias relacionadas ao tráfico de
drogas sumiram da trama, assim como vários personagens – quase cem
atores foram escalados. Miro (André Gonçalves), que colocava vídeos na
internet fingindo ser um grandão do crime, foi completamente limado,
assim como Beto (Sasha Bali), o ex de Morena, que foi dado como morto
numa linha de diálogo. Parte do elenco acabou servindo de figuração de
luxo. Para completar, houve muitos erros de continuidade e equívocos de
direção. Em suma, tivesse sido melhor burilada, “Salve Jorge” poderia
ter passado incólume a piadistas e críticos de plantão.
Elencar os problemas da novela não significa, no entanto, que “Salve
Jorge” não tenha proporcionado bons momentos. Obviamente, ao colocar no
horário nobre da Globo uma questão importante como o tráfico de pessoas,
a novela cumpriu um grande papel social ao alertar para essa modalidade
de crime. Da mesma maneira, o folhetim consagrou o trabalho de Totia
Meirelles e Giovana Antonelli, que ganharam grandes personagens, além de
confirmar o que já se sabia sobre Nanda Costa no cinema: é uma grande
atriz, que enfrenta desafios sem medo. Igualmente serão eternamente
gratos à trama artistas como Adriano Garib – que já foi escalado para a “Dança dos Famosos” – e Thammy Miranda, que despontaram para o estrelato.
Feitas
as ressalvas, é preciso afirmar que nas últimas semanas Gloria Perez
soube imprimir um forte ritmo a “Salve Jorge” e amarrou bem suas
principais histórias. O último capítulo não reservou grandes surpresas
além dos finais já revelados
pela coluna, mas garantiu bons momentos como o fato de Wanda (Totia
Meirelles) ter se convertido na prisão numa clara ironia. Restaram, no
entanto, fios soltos. Dois deles: como Helô cuidou de sua compulsão por
compras? Ninguém avisou a Theo que ele perdeu um filho com o
atropelamento de Érica (Flávia Alessandra)? Outros finais ficaram apenas
subentendidos como Russo e Irina (Vera Fischer) cumprindo sua sentença e
Celso (Caco Ciocler) assumindo sua parte na fortuna dos Flores Galvão.
No quesito audiência, a novela não foi tão bem quanto as antecessoras
e registrou a menor média de um último capítulo dos últimos anos. Foram
45 pontos com pico de 49, mesmo número da última segunda-feira, quando a
novela atingiu seu recorde. A antecessora, “Avenida Brasil”, marcou 7
pontos a mais.
“Salve Jorge” – 45 pontos com pico de 49
“Avenida Brasil” – 52 pontos com pico de 54
“Fina Estampa” – 47 pontos com pico de 50
“Insensato Coração” – 47 pontos com pico de 51
“Passione” – 52 pontos com pico de 54
“Viver a Vida” – 46 pontos com pico de 52
“Caminho das Índias” – 55 pontos com pico de 59
“A Favorita” – 50 pontos com pico de 53
Nenhum comentário:
Postar um comentário