Todos aqueles acessórios e aparatos tecnológicos que nos
atormentam na cadeira do dentista – embora sensação nos consultórios -
viram motivo de piada em “O Dentista Mascarado”, nova série da Globo,
que estreou nesta sexta-feira. A “maquininha”, com seu barulho
ensurdecedor, e a anestesia passaram a ser munição para Marcelo Adnet
disparar suas pérolas, sem esquecer do gás comumente chamado de
"hilariante” (gás nitroso). Nada mais providencial, diga-se de passagem.
Com
identidade visual remetendo a clássicos dos desenhos animados,
quadrinhos e cinema, como “Lanterna Verde” e “O Máskara” (Adnet até
lembrou Jim Carrey em alguns momentos), o seriado apostou na
apresentação dos personagens em seu primeiro episódio. Aí ficou
claro que – mesmo sendo o foco da produção - o novo contratado do "plim
plim", não deve ser o único (e talvez nem o grande) destaque da
temporada.
Leandro Hassum mandou muito bem como o protético Sérgio, longe da dobradinha com Marcius Melhem, de “Os Caras de Pau”.
Difícil não associá-los, mas saudável a separação. Uma coisa meio
Ingrid Guimarães e Heloísa Perissé, que num primeiro momento pareciam
não ter vida própria separadas, após o sucesso teatral “Cócegas” e a
série de TV “Sob Nova Direção”.
Interessante também o encontro de gerações do humor com a
troca de figurinhas entre Diogo Vilela (o investigador Miller) e Marcelo
Adnet (o doutor Paladino). Mas a grande promessa, pelo visto, é Taís
Araújo. Na pele da golpista Sheila, a atriz tem a difícil missão de se
dedicar 100% ao humor. O resultado tem tudo para ser
gratificante. O elenco conta ainda com Helena Fernandes, que aos poucos
consegue mais espaço na Globo.
Paladino é, na verdade, um profissional frustrado por não
atender o desejo do pai (vivido por Otávio Augusto) que o queria
policial. O dentista compensa o “derrotismo” nas horas vagas
combatendo crimes, buscando associações divertidas entre as duas
profissões e tentando provar para si mesmo que “não tem medo de nada”. O entrosamento com os parceiros Sérgio e Sheila tem tudo para render.
O texto, de Fernanda Young e Alexandre Machado, comprova que
há humor inteligente na TV aberta e que nem sempre a piada está ali às
claras, bem explicadinha (ainda que, em alguns instantes, tenha faltado
ritmo e vontade de rir). Os autores já demonstraram isso em “Os
Normais” (2001/2003), “Os Aspones” (2004), “Minha Nada Mole Vida”
(2006) e “Macho Man” (2011), por exemplo. Para aqueles que querem tudo mastigado, não recomendo.
Claro que nem tudo em “O Dentista Mascarado” é motivo de riso. O
que pode causar estranhamento. Até pelo fato de estarmos acostumados a
ver Adnet, meio apresentador, meio comediante, improvisando na MTV. Em
alguns momentos vemos mais o ator do que o humorista em cena -
enquadrado no formato global, com a superprodução que não tinha na
antiga casa.
Quando o humorista fala mais alto, surgem questões (ou insinuações)
como: “O que entra mole e sai duro?” e “Qual a semelhança entre a
anestesia e o japonês?”. E Adnet as dispara com direito a aparelho nos
dentes para compor o personagem.
Esperamos que isso não provoque a ira de dentistas (os profissionais) desavisados. Sabe
como é, quando se mexe com profissões, sempre tem aqueles que sentem-se
ofendidos, por achar que estão sendo desqualificados, expostos ao
ridículo (o que falta, no caso, é um pouquinho de senso de humor, achar
graça na própria rotina).
Young e Machado com certeza sabem que sedação é coisa séria,
mas foram buscar não só o que há de mais constrangedor no ato de sentar
numa cadeira de dentista, como as associações mais eróticas (que
podemos encontrar, aliás, em várias situações e diálogos da nossa
rotina, basta os tirarmos do contexto). Ah, para quem perdeu a estreia,
as respostas são: “O molde dentário” e “Quando metem ninguém sente
nada”.
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