Com um pé na Turquia e outro no Brasil, “Salve Jorge”
começou focando na pacificação do Complexo do Alemão. Lá, para onde foi
enviado o agente da cavalaria Theo (Rodrigo Lombardi), vive Morena
(Nanda Costa) e é neste cenário que o casal de mocinhos descobrirá o
amor. Antes, porém, a trama fez questão de mostrar como se deu o
processo de pacificação da favela, com instalação das UPPs. O que
poderia ser uma superprodução, no entanto, evidenciou uma fotografia
clássica em excesso. Se a antecessora, “Avenida Brasil”
usava e abusava do recurso de câmera na mão e de planos fechados, desta
vez o que se viu foi um excesso de planos fixos e imagens tratadas na
pós-produção, usadas em telejornais. Perdeu-se ali a chance de mostrar o
conflito de forma mais complexa. Tudo pareceu rápido e rasteiro, mas
não ofuscou a história que Gloria Perez vai contar. A primeira cena, no
entanto, que mostra a protagonista sendo leiloada no exterior, dá
mostras de que fortes cenas estão por vir.
A julgar pelo primeiro capítulo, a nova trama das nove empolga mais
em seu lado conterrâneo que estrangeiro. É inevitável não traçar
comparações com histórias como “O Clone” e “Caminho das Índias” ao ver
figuras como Antônio Calloni desfilando expressões típicas e, claro,
falando português claramente mesmo tendo nascido em outro país. Pelo
lado de cá, Morena foge do modelo convencional de mocinha sonhadora e
investe no barraco sem medo. Suburbana, lembra figuras como Lucinha
(Betty Faria/Carolina Ferraz), de “Pecado Capital”, de Janete Clair,
folhetim que, por acaso foi reescrito por Gloria Perez em 1998. A
escalação de Nanda Costa para o papel principal, aliás, pode ser
considerado desde já um grande acerto. É carismática e intuitiva, embora
possa assustar à primeira vista com o jeito “marrento” de sua
personagem.
Levando em consideração um único capítulo como base, “Salve Jorge”
parece ser um folhetim clássico no melhor do que ele representa. Núcleos
familiares, humor bem dosado, cenas sem grande ousadia técnica, mas que
funcionam. Dá mostras de que a novela deve pegar, como ocorreu com as
últimas produções assinadas por Gloria Perez, que, se for esperta, deve
explorar mais o universo do tráfico, especialmente apostando em
personagens que flertam com o crime como Lurdinha (Bruna Marquezine),
periguete que promete fazer barulho.
No quesito audiência, a novela ficou abaixo dos índices de estreia de “Avenida Brasil”, que havia registrado 37 pontos
com 40 em seu lançamento. De acordo com dados prévios do Ibope, “Salve
Jorge” marcou média de 35 pontos com pico de 40. Último trabalho de
Gloria Perez no horário, “Caminho das Índias” teve 39 pontos. Compare
com os números dos primeiros capítulos das últimas novelas das nove da
Globo:
“Salve Jorge” – 35 pontos
“Avenida Brasil” – 37 pontos
“Fina Estampa” – 41 pontos
“Insensato Coração” – 37 pontos
“Passione” – 37 pontos
“Viver a Vida” – 42 pontos
“Caminho das Índias” – 39 pontos
“A Favorita” – 35 pontos
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