Um dos assuntos mais comentados desta semana foi o
fato de Glória Perez, autora de “Salve Jorge” (Rede Globo), ter
esquecido que o investigador Barros (Marcelo Airoldi) já havia
interrogado Wanda (Totia Meirelles) em outra ocasião – quando a vilã,
usando o nome de Djanira, bateu no carro de Maitê (Cissa Guimarães). E
teve ainda Mustafá (Antônio Calloni), que encontrou com Morena (Nanda
Costa) na Turquia como se fosse a primeira vez. Mas já havia estado com
ela no Brasil, embora rapidamente, na cena em que Jéssica (Carolina
Dieckmann) foi encontrada morta num banheiro.
Esses
tropeços somam-se à uma série de gafes da novela – que vão de erros no
uso de termos jurídicos a outros esquecimentos, passando por falhas de
continuidade. Impossível não falar disso em nosso primeiro contato aqui
no Yahoo!, na “estreia” do blog.
Quando “Salve Jorge” - com promessa de superprodução e elenco
“megalomaníaco” - começou a patinar na audiência, Glória não pensou duas
vezes e concentrou as ações (acertadamente) no drama do tráfico de
mulheres, justamente o que a história traz de novidade. E isso fez
surgir outro núcleo: o dos esquecidos!
Muitos nomes do elenco nunca mais vimos. Onde foram parar, por
exemplo, André Gonçalves, Eva Todor (seria um papel importante, escrito
especialmente para ela) e Cristiana Oliveira? Você lembra que esses
atores estão na novela? Vale ressaltar que o intérprete de Miro veio de
duas atuações seguidas de destaque - em “Morde e Assopra” (Áureo) e
“Amor Eterno Amor” (Pedro). Agora, uma bobagem!
Muitos personagens estão “soltos”, “não acontecem”, conflito zero:
Sidney Sampaio (Ciro), Vera Fischer (Irina), Walderez de Barros (Cyla),
Rosi Campos (Cacilda), Julinha (Cris Vianna), Stênio Garcia (Arturo), só
pra citar alguns. É muito talento desperdiçado em papéis inexpressivos.
A própria Cissa Guimarães (Maitê) só aparecia pra bater papo com Bianca
(Cléo Pires) via webcam. Já com Drika (Mariana Rios) e Pepeu (Ivan
Mendes) a autora parece não saber mais o que fazer. A dupla tinha tudo
pra virar - o início da trama apontava para isso -, mas não virou. Na
contramão das pretensões iniciais, a “figuração de luxo” ganhou destaque
(ou nem isso!).
Se repararmos bem, caso alguns moradores do morro do Alemão sumissem
de vez, não faria muita diferença. Até Bruna Marquezine – queridinha do
momento por conta do namoro com Neymar – só aparece como garota de
recados ou desfilando sua boa forma para lembrarmos que Lurdinha existe.
E vai saber se não é pelo atual burburinho que a atriz causa que a
personagem ainda marca presença (sem deixar de reconhecer o talento da
atriz)...
Porém, outro detalhe é mais intrigante. Já repararam que até Jorge, o
“Guerreiro”, foi esquecido? Pelo visto, não anda "salvando" ninguém.
Será que Glória esqueceu até do nome da trama? Morena, num perrengue dos
infernos, não fez um apelo para o santo. O mocinho Théo (Rodrigo
Lombardi), tão devoto nos primeiros capítulos, não pediu uma “forcinha
divina” diante de todos os problemas vividos nos últimos capítulos,
incluindo o embate com Lívia (Cláudia Raia) na Justiça. Esse um mero
“esquecimento” ou a patrulha evangélica surtiu efeito? Parece que foi
praga... Canta pra subir Glória Perez, xô urucubaca!!!
Só que, mesmo diante de tudo isso, uma coisa é certa: não se pode
duvidar do poder de Glória Perez para “operar milagres”. Lembram-se de
"América" (2005)? Quando o assunto é dar reviravoltas, não precisa muita
reza. Ela sabe se aproximar do popular e ir de encontro aos anseios da
audiência. Embora ande “mais esquecida do que nunca” (provavelmente,
seja hora de repensar a missão de escrever sem colaboradores uma novela,
ainda mais com tantos núcleos e personagens), o público também parece
esquecer que ela é autora – em muitos casos sozinha e dando conta de
tudo - de sucessos como “Carmem” (Rede Manchete, 1987/88), “Barriga de
Aluguel” (1990/91), “O Clone” (2001/02) e da minissérie “Hilda Furacão”
(1998) ao disparar uma metralhadora de críticas.
A novela tem, sim, erros na escalação de elenco, na concepção,
estereótipos (ainda escreverei sobre isso), mas essa “patrulha” para que
tudo seja fiel à realidade também é muito chata. É ficção, meses de
história, um “novelo” para desenrolar. Isso explica em boa parte porque
Morena ainda não pegou o telefone e ligou para o Brasil para entregar o
esquema criminoso que a fez refém (mas já falou que está ilegal na
Turquia, não tem documentos, teme represálias etc.).
A própria
solução encontrada pela autora para explicar a gafe desta semana com
Barros e Wanda não é tão improvável assim: ele e Helô (Giovanna
Antonelli) vão comentar sobre a dificuldade para os policiais lembrarem
de uma pessoa entre tantas que entram numa delegacia para relatar
problemas no trânsito. Vida real está nas manchetes de jornal, na
Internet, no “Brasil Urgente” (Band), no “Cidade Alerta” (Record) ou no
“Jornal Nacional (Globo). E olha que estamos analisando uma novelista
que sabe flertar com fatos reais num serviço quase jornalístico
(crianças desaparecidas, drogas, entre outros temas). Vamos dar um
desconto para certas "licenças poéticas", né!? Afinal, é a Glória!!!
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